Estamos envelhecendo. E agora? Uma conversa sobre longevidade e produtividade.

Essa semana estava conversando com um amigo sobre como as coisas da vida, alguma hora, simplesmente se impõem. Ele, solteiro aos 40, cai em si que precisa encontrar alguém para casar e realizar seu sonho de ter uma família. Eu, aos 38, me dou conta que o “futuro já começou” e já escuto a última chamada para o voo da maternidade.

O tempo passa, inexorável, e chega com suas questões da hora para cada um de nós. As primeiras aparecem no espelho. As rugas, o cabelo branco, aquela flacidez nas bochechas. Na minha cabeça ainda tenho vinte e poucos, talvez quase trinta anos. Me sinto no meu melhor momento intelectual e emocional, mas já sem o vigor físico de antes. Estou mais cansada, apareceram algumas sequelas dos anos de tabagismo (já vencido) e da eterna luta contra a balança: uma resistência insulínica que dificulta ainda mais perda de peso e uma hipertensão controlada.

Também percebo que, apesar de me manter constantemente atualizada, não tenho a rapidez mental dos jovens de vinte e poucos anos, “forjados na internet”. Eles têm um modelo mental de aprendizado extremamente fluido, uma comunicação rápida, absorvem massivas quantidades de informações que processam rapidamente em conhecimento prático, em técnica aplicada. Tenho a impressão de que o meu equipamento já está antiquado e não tem mais a velocidade de processamento dos “chips” dos jovens. Isso é uma reflexão que vem ocupando minha mente.

Como um mundo que terá cada vez mais velhos lidará com a necessidade de reinvenção profissional constante?

Eu vejo pessoas mais velhas e mais saudáveis, mais capazes de cuidar de si - mas não vejo, hoje, de que forma essas pessoas vão se reprogramar mentalmente para se atualizarem profissionalmente a ponto de se adequarem às novas demandas do mundo do trabalho. Há também entre os homens um fenômeno parecido com a menopausa nas mulheres: a andropausa. Essas transformações hormonais, somadas a um momento profissional ruim ou uma questão de saúde pode drenar as energias e deixar as pessoas sem reação diante de um mundo com mudanças tão brutais. O desafio do século é como uma pessoa em envelhecimento pode continuar sendo produtiva.

No último fim de semana assisti ao filme The Intern (Um Senhor Estagiário), com Robert De Niro e Anne Hathaway no Amazon Prime Vídeo. A história é sobre um viúvo de 70 anos que se aposenta e, depois de explorar todas as fantasias da satisfação do tempo livre, fica entediado e decide se candidatar a uma vaga para seniores em uma startup de tecnologia. É um ótimo entretenimento e ainda deixa muitas reflexões sobre o envelhecer na vida e no mundo do trabalho, além de trazer questões intergeracionais. Recomendo!

Há iniciativas como a do empreendedor social Mórris Litvak, que fundou a MaturiJobs, uma startup que promove a reinvenção de profissionais mais velhos em comunidades de atualização de conhecimento e encontros de networking. Eles também possuem um grande banco de CVs para programas de contratação de profissionais 50+ por empresas. É uma iniciativa que ajuda a conscientizar gestores de RH sobre a importância de absorver profissionais mais maduros e experientes como um elemento de diversidade na formação de equipes.

Existem ainda outras histórias que me inspiram. Tenho duas amigas, que hoje estão entre seus 65 e 70 anos, e resolveram aprender sobre startups de tecnologia. Elas fizeram inúmeros cursos e atualizações sobre o tema e acabaram redirecionando suas carreiras: hoje estão trabalhando com mentorias e até investindo nesse tipo de negócio.

Definitivamente, eu quero ser igual a elas quando eu crescer.

Os avanços da medicina estão fazendo com que a gente viva mais tempo e com saúde física - mas precisamos adequar a sociedade às consequências dessa revolução biológica. O colapso do nosso modelo de previdência social é um dos sintomas desse quadro.

Queremos ter filhos mais tarde, ser jovens por mais tempo e precisamos continuar produzindo até a velhice para bancar nossa sobrevida, mantendo a dignidade e sanidade mental, numa sociedade que ainda não se adaptou à intergeracionalidade e que precisa de cada vez menos gente para produzir mais riqueza.